Henrique Meirelles discute cenário econômico em evento promovido pelo Movimento Pró-Paraná

O Movimento Pró-Paraná promoveu, na noite de segunda-feira (20/10), em Curitiba, conferência com o economista Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central. Realizado na sede da Fecomércio Paraná, o encontro teve como tema “Conjuntura Econômica Nacional e Internacional” e reuniu lideranças públicas, empresariais e acadêmicas em um amplo debate sobre os desafios e perspectivas da economia brasileira e global.

Na abertura, o presidente do Movimento Pró-Paraná, Marcos Domakoski, destacou o simbolismo do evento às vésperas do jubileu de 25 anos da entidade. “O Pró-Paraná nasceu movido pela convicção de que a sociedade civil é capaz de transformar realidades quando se organiza, se une e fala com propósito”, afirmou. Domakoski ressaltou ainda a importância do diálogo entre os setores público, produtivo e acadêmico como marca da atuação do Movimento.

“O Paraná tem sido exemplo de cooperação e de protagonismo cívico. Nosso papel é continuar construindo pontes, pensando o futuro e reafirmando a fé na sociedade civil como força moral e criativa do Estado”, completou.

Durante sua apresentação, Henrique Meirelles destacou a relevância do Movimento Pró-Paraná e sua atuação ao longo das últimas décadas. “É impressionante a lista de obras e realizações que tiveram a participação do MPP. O Brasil precisa muito desse tipo de ação da sociedade civil”, afirmou. “Fico animado quando vejo um grupo como o Pró-Paraná trabalhando e agindo”, acrescentou.

Conjuntura econômica: avanços e desafios

Meirelles observou que, nos últimos dois anos, o Brasil apresentou crescimento acima de 3% ao ano, superando as previsões iniciais. Segundo o economista, esse resultado é reflexo de medidas estruturantes adotadas entre 2016 e 2018, como a reforma trabalhista e a criação da Lei do Cadastro Positivo. “Antes, o cadastro de operações de crédito pertencia às instituições financeiras. Com a nova legislação, passou a ser do cliente. Isso permitiu, por exemplo, o surgimento do Pix, que em 2024 foi utilizado por 76% da população adulta do país”, explicou.

Ao comentar o cenário macroeconômico internacional, Meirelles destacou a redução na projeção de crescimento global feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que caiu de 3,5% para menos de 3%. “Esse movimento é um reflexo defasado e inevitável do excesso de endividamento privado, sobretudo na China”, avaliou. Ele observou que o governo chinês segue incentivando o crédito, especialmente no setor imobiliário, mas alertou para os limites desse modelo. “Estive recentemente em uma fábrica na China com jornadas de trabalho de 12 horas por dia, de segunda a sábado. É um sistema duro, mas que gera alta produtividade”, refletiu.

Dívida pública e necessidade de reformas

Meirelles alertou para os riscos representados pelo crescimento da dívida pública interna no Brasil. “Projetamos uma barreira para o crescimento por volta de 2027 ou 2028, quando a dívida pública poderá atingir quase 90% do PIB, caso a tendência atual se mantenha. Para evitar esse cenário, é fundamental controlar as despesas domésticas”, disse.

O economista também comentou a importância das reservas internacionais brasileiras. “O Brasil hoje possui cerca de US$ 350 bilhões em reservas no Banco Central, o que representa um avanço significativo em relação ao passado, quando havia alta dependência de recursos do FMI”, afirmou. Ele comparou a situação brasileira à da Argentina, país que, segundo ele, enfrenta sérias dificuldades devido à ausência de reservas e à elevada dívida com os Estados Unidos.

Provocado pelo ex-ministro Alceni Guerra, que participou do evento, Meirelles abordou o desequilíbrio entre arrecadação e gasto público. “A carga tributária já é elevada, mas os recursos ainda são insuficientes para áreas essenciais como a Saúde. O que é necessário é uma reforma administrativa eficiente, com cortes em despesas que não são prioritárias”, afirmou.

Ele citou a experiência do Estado de São Paulo, onde promoveu uma reforma administrativa que possibilitou superávit e a ampliação de investimentos. “É preciso enfrentar situações como a de empresas públicas criadas para gerir projetos cancelados, como a superrodovia entre Rio e São Paulo. A estrada foi descartada, mas a empresa continua existindo. Isso deve ser revisto.”

Competitividade e qualificação profissional

Outro ponto destacado por Meirelles foi a complexidade do sistema tributário brasileiro. Segundo ele, embora a reforma em curso tenha potencial para reduzir essa complexidade, ainda não resolve integralmente a questão. “Endereçar questões estruturais, como a tributária, e investir na qualificação da mão de obra são passos fundamentais para aumentar a competitividade do Brasil em escala mundial”, declarou.

Nas considerações finais, defendeu o fortalecimento de iniciativas de capacitação profissional. “O aumento da produtividade no Brasil depende de uma reforma tributária mais robusta e, sobretudo, de maior treinamento da força de trabalho. O sistema S já realiza um trabalho de excelência, mas é preciso ampliar esse esforço”, concluiu.

Participação e transmissão

O evento contou com a presença do senador Oriovisto Guimarães (que participou remotamente), além de representantes do setor produtivo, da academia e de diversas entidades da sociedade civil.

A conferência foi realizada em formato híbrido, com transmissão ao vivo pela plataforma Zoom, ampliando o alcance do debate para participantes de diversas regiões do país.

Na mídia

Nesta terça-feira (21/10), o tema do evento foi discutido na Jovem Pan Curitiba com as participações de Domakoski e de Meirelles (acesse aqui o link da entrevista).

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